03 março 2010

A PERDA

Chovia.
O sol não se atreveu a aparecer.
Na praia, apenas alguns surfistas na água.
Ele caminhava à beira-mar.
Devagar.
Usava uma jaqueta impermeável e bermuda.
A chuva não incomodava.
A dor que trazia no peito, deixava-o imune a qualquer incômodo.
Estava torpe. Anestesiado.
O coração batia fraco.
Quase sem vida.
Caminhava sem pressa.
Sem rumo.
Sem alegria.
A tristeza e a solidão eram companheiras definitivas.
A perspectiva de cancelar a conta, era uma dor agradável.
Um alívio para o martírio que o consumia.
Ele flertava com a doce idéia do fim.
Para que continuar ali, se estava só?
Se ela havia sumido.
Sem mais, nem menos.
Ele lembrava da última vez que estiveram juntos.
De todas às vezes, aquela sem dúvidas, foi a melhor.
Tanto amor, tanto carinho.
Tantas promessas.
E agora, o vazio.
A ausência.
O abismo.
Havia os amigos.
Muitos deles.
Mas nada mais tinha graça.
Festas, encontros, visitas.
Sozinho?
Não valia à pena.
Não tinha nada mais agradável para ele, quando conversavam com um grupo de amigos, do que ficar mandando MI’s para ela:
- Você está linda!
- Eu amo você!
E ela sempre respondia.
- Rs, rs.
- Também te amo.
- Meu amor.
Era uma brincadeira entre os dois.
Uma forma de mostrar que mesmo com um mundo à volta deles, um sempre estava ligado ao outro.
Então, para que ver os amigos?
Para ter o desconforto do lag?
Para ter lembranças dolorosas?
Para machucar o coração ainda mais?
Para quê?
Esses pensamentos passeavam na sua cabeça.
O pensamento que mais constante, que mais martelava e insistia em permanecer ali, presente em sua cabeça, era:
- Por quê?
- Porque sumiu?
- Porque foi embora, sem ao menos dizer que ia?
- Porque não acabou com tudo antes de partir?
Ele não conseguia entender.
Por mais que se esforçasse, não achava razão.
Ela não tinha motivos para uma atitude tão intempestiva.
Nada. Nada justificava ou explicava esta atitude.
O último papo dos dois tinha sido na casa deles, deitados na cama, momentos antes de deslogarem-se:
- Boa noite linda!
- Até amanhã, meu amor.
- Dorme bem gata.
- Fica com deus meu fofo.
E depois................
Silêncio.
Ausência.
Off permanente.
Ele chegou a ficar logado mais de 24 horas direto, para ver se a encontrava.
Não conseguiu.
Ela simplesmente evaporou.
Ele sabia que a conta estava ativa.
Mas inoperante.
Nenhum amigo tinha visto ela logada.
O desespero era grande.
Já fazia uma semana que ela estava ausente.
O que era pior, sem avisar.
Ele não agüentava mais caminhar.
Sentia-se sem forças.
A dor era muito grande.
Sentou na areia e ficou olhando o mar.
As ondas, os surfistas, a chuva.
Ele olhava e nada via.
O pensamento vagava.
E com ele, o seu olhar.
Abaixou o volume da música que tocava na land.
Era surf music.
Chorou.
As lágrimas verteram com força.
Uma semana contendo o sofrimento.
Não agüentou.
Externou a dor.
Olhava para o mar e chorava.
As lágrimas, misturadas às gotas de chuva.
Sua cabeça estava vazia.
Só pensava em cancelar a conta.
Doce suicídio.
Terminar com o sofrimento.
Ficou assim, por trinta minutos.
Quando se sentiu um pouco mais calmo, foi para casa.
A casa ficava enorme e vazia sem ela, mas era seu último refúgio.
Tudo muito quieto.
Há dias, não havia música.
Ele preferia assim.
O rádio mudo.
Silêncio total.
Só ao fundo, baixo, o som das ondas.
A casa era na praia.
À beira-mar.
Não havia motivos para ter música.
Sua alegria tinha ido embora.
Junto com seu amor.
Deitou no sofá e lá dormiu.
Queria nunca mais despertar.

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